Ontem sacudi-te para debaixo do tapete. É sempre mais fácil sacudir-te para debaixo do tapete do que te limpar desta casa que sou eu. Maldito do vento que faz sempre questão de te tirar de debaixo do tapete e abanar-te para eu saber que ainda estas aqui, em mim.
O tempo é cruel. Ele passa por nós e leva com ele pedaços daquilo que somos, memórias de coisas que vivemos. O tempo leva coisas e trás-nos o esquecimento. O tempo escorre-nos entre os dedos e com ele arrasta memórias e recordações. Por norma, essa amnésia que ele nos dá é indolor. Esquecemo-nos porque não nos faz falta lembrar. Mas hoje o tempo fez doer. Fez doer porque não consegui completar a lista das memórias que tenho de ti. Doi lembrar-me de ti e já não saber o som a tua voz a chamar por mim. O tempo roubou de mim aquela tua maravilhosa gargalhada, o suave sorrir cumplice, o tom sereno das tuas palavras. Agora vivo de memórias mudas. Oh tempo cruel.